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Esquizofrenias - Dra. Marília Alencar Marinho.

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ESQUIZOFRENIAS – Dra. Marília Alencar Marinho.

Esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que foi identificado na sociedade há muitas décadas, que anteriormente era conhecido como “Demência Precoce” e que teve este nome em 1911, dado pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler, e que significa “mente dividida”.

Eugem Bleuler queria dizer, com este termo, que o paciente apresentava uma dissociação percebida por ele entre si mesmo e a pessoa que ocupava seu corpo.

Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam, em geral, por distorções do conteúdo pensamento (delírios), da percepção (alucinações) e por inadequação dos afetos. Usualmente o paciente com esquizofrenia mantém clara sua consciência e sua capacidade intelectual. A esquizofrenia traz ao paciente um prejuízo tão severo que é capaz de interferir amplamente na capacidade de atender às exigências da vida e da realidade. 

Na epidemiologia de Esquizofrenia, encontra-se um risco ao longo da vida de 0,3 a 2 %, com média de 0,7 % e uma incidência anual de 15 a 40/100.000/ano.

Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometida pela doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico se baseia exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres. 

Com base na prevalência estimada, não se encontrou diferença significativa entre:

  1. Homens e mulheres;
  2. Ambientes urbanos, rurais ou mistos;
  3. Ao longo das épocas.

 

Porém, encontrou-se uma prevalência mais alta entre migrantes do que entre indivíduos nativos. Também, com relação a status econômico, foi encontrada prevalência mais alta nos países desenvolvidos do que em países menos desenvolvidos. Outro dado interessante da prevalência é que em latitudes mais altas foram associadas a maior prevalência de esquizofrenia do que latitudes mais baixas ou médias.

Com relação à mortalidade, pacientes com Esquizofrenia têm risco maior de morrer (2-3 vezes maior), comparados à população geral.

Aproximadamente, 10 % dos pacientes com este diagnóstico cometem suicídio.

Sobre a idade de início da Esquizofrenia, nos homens, ela aparece mais cedo, entre 10 a 25 anos de idade. Já nas mulheres, aparece entre 25 e 35 anos de idade.

Sobre a evolução da doença, nos homens há maior probabilidade de desenvolver sintomas negativos e nas mulheres, há maior probabilidade de melhor funcionamento social pré-mórbido e melhor prognóstico.

Outro dado relevante: cerca de 75 % dos pacientes com Esquizofrenia não trabalham ou estão desempregados. Por conta disso, cerca de 2,5 % dos gastos com saúde são destinados à Esquizofrenia.  

  De acordo com o DSM-IV, para se diagnosticar Esquizofrenia, dois ou mais dos seguintes sintomas devem estar presentes com duração significativa por pelo menos um mês:

  1. Delírios;
  2. Alucinações;
  3. Discurso desorganizado;
  4. Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico;
  5. Sintomas negativos (embotamento afetivo, alogia, avolição);
  6. Disfunções sociais, no trabalho e/ou estudo, denotando perdas nas habilidades interpessoais e produtivas.

A duração dos sintomas principais (De 1 a 5) por pelo menos um mês e do quadro deficitário (sintomas negativos ou item 6) por pelo menos seis meses.

Existem vários subtipos de Esquizofrenia, de acordo com a CID-10 ou DSM-IV. São eles:

Paranóide: É o subtipo mais comum e é caracterizado pela presença central de delírios, normalmente com conteúdos persecutórios, autorreferentes, de ciúmes ou de mudanças corporais. A presença de alucinações, principalmente, auditivas também faz parte do quadro característico. A presença de prejuízo da volição e do discurso, bem como, os distúrbios do afeto e sintomas catatônicos são pouco proeminentes.

 

Desorganizado ou Hebefrênico: A característica marcante neste tipo é o prejuízo do pensamento e o comprometimento afetivo. O pensamento se mostra desorganizado, com delírio pouco ou não estruturado, com discurso fragmentado. Quanto ao afeto, encontra-se inapropriado e superficial, com risos imotivados e comportamento pueril o bizarro. Normalmente, o início da Esquizofrenia dá-se precocemente e a evolução é pior quando comparado ao subtipo paranóide pela precoce e grave instalação de sintomas negativos.

 

Catatônico: A alteração marcante neste tipo diz respeito a psicomotricidade podendo apresentar períodos de mutismo, intenso negativismo, obediência automático e flexibilidade cérea, e em outro momento agitação e excitação chegando a um intenso estado de agitação e violência denominado FUROR CATATÔNICO. Os sintomas positivos como delírios e alucinações são ausentes ou com importância secundária.

 

Indiferenciado: Enquadra-se quando não é possível a definição por não haver claro predomínio dos sintomas que delimitam os subtipos de Esquizofrenia.

 

Residual: Consiste no estágio crônico da doença onde os sintomas positivos, que caracterizaram o diagnóstico de Esquizofrenia, estão ausentes ou diminuídos e os sintomas negativos prevalecem e se destacam.

 

Simples: Caracteriza-se pelo surgimento de forma insidiosa, porém progressivamente dos sintomas negativos sem que sejam precedidos por sintomas positivos.

 

A Esquizofrenia é uma doença complexa, normalmente associada à grave prejuízo no funcionamento social e a grande sofrimento para os pacientes e seus familiares.

 

O controle dos sintomas positivos é essencial, pois, quanto maior o período sintomático, pior a evolução e a resposta posterior à medicação.

 

Quanto ao tratamento medicamentoso, as recomendações gerais são usar doses efetivas de medicamento por tempo adequado (durante toda a vida do paciente), investigar e promover a adesão ao tratamento, não postergar a introdução da clozapina (usada nos pacientes refratários, ou seja, que não respondem aos outros tratamentos medicamentosos) e não postergar o uso de medicamentos antipsicóticos de depósitos, quando indicados (para situações de não-adesão ao tratamento).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Kaplan – Compêndio de Psiquiatria, 2007; Manual de Psiquiatria da UNIFESP, 2011; CID-10; DSM-IV; site Psiqweb.

Autor

Dra Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

Dra Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

Psiquiatra

Especialização em Medicina de Família e Comunidade no(a) universidade federal de alagoas.