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Luto - Dra. Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

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LUTO – Dra. Marília Rodrigues C. de Alencar Marinho.

Perda, luto e pesar são termos que se aplicam às reações psicológicas de pessoas que sobrevivem a perdas importantes”. Kaplan & Sadock, artmed, 2007.

O luto é precipitado pela morte de um ente querido. “Pesar” é usado como seu sinônimo, embora este seja o processo pelo qual o luto é resolvido.

Perda significa a privação de alguém pela morte de um ente querido.

O LUTO NORMAL se inicia logo após ou dentro de alguns meses da perda de um ente querido. Ele se caracteriza por sentimentos de TRISTEZA, CHORO, PREOCUPAÇÃO COM PENSAMENTOS SOBRE O (A) FALECIDO (A), IRRITABILIDADE, INSÔNIA e DIFICULDADES DE CONCENTRAR-SE E DE REALIZAR ATIVIDADES COTIDIANAS.

O luto normal tem PERÍODO DE DURAÇÃO VARIÁVEL, conforme o grupo cultural mas, em geral, dura SEIS MESES, podendo ser mais longo.

Tradicionalmente, o LUTO NORMAL dura de SEIS MESES A UM ANO, período no qual a pessoa enlutada experiência ao menos um ano de separação. Alguns dos sintomas do luto podem persistir por MAIS DE UM OU DOIS ANOS, e o sobrevivente pode ter vários sentimentos, sintomas e/ ou comportamentos relacionados ao luto ao longo da vida.

De um modo geral, os sintomas agudos do luto vão diminuindo gradativamente e, dentro de UM OU DOIS MESES, a pessoa enlutada já consegue se alimentar, dormir e retornar ao seu funcionamento normal.

Porém, o luto normal pode levar a um TRANSTORNO DEPRESSIVO PLENO (Depressão, episódio, depressivo ou depressão maior) que vai requerer tratamento médico psiquiátrico e psicoterápico.

O diagnóstico de TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR só costuma ser dado se os sintomas de depressão persistirem dois meses após a perda.

Alguns sinais e sintomas são muito úteis para se diferenciar o luto de uma depressão. São eles:

  1. Culpa acerca de coisas outras que não ações que o sobrevivente tenha ou não realizado à época do falecimento;
  2. Pensamentos sobre morte (Ex.: “Seria melhor eu estar morto” ou “Deveria ter morrido com a pessoa falecida”);
  3. Preocupação mórbida com inutilidade;
  4. Retardo psicomotor acentuado;
  5. Prejuízo funcional acentuado e prolongado;
  6. Alucinações outras que não o fato de achar que ouve a voz ou vê temporariamente a imagem da pessoa falecida.

(Fonte: Kaplan & Sadock, artmed, 2007).

O luto normal costuma se manifestar, inicialmente, como um estado de choque que pode se manifestar como um sentimento de  insensibilidade e uma sensação de confusão. Em seguida, pode se dar expressões de sofrimento e perturbação, caracterizados por choro e suspiros (menos comum entre os homens de culturas ocidentais). Aparecem, então, sintomas como fraqueza, falta de apetite, perda de peso e dificuldade para se concentrar, respirar e falar. Além disso, surgem os transtornos do sono que podem ser dificuldade para pegar no sono, despertar durante a noite e acordar muito cedo pela manhã, podendo ocorrer também sonhos com a pessoa falecida. Pode acontecer ainda pensamentos de auto-repreensão, embora menos intensos no luto normal que no patológico. Outro sintoma muito comum é a sensação da presença da pessoa falecida, podendo ser tão intensa que constitui uma ilusão ou alucinação (ouvir a voz ou sentir a presença), embora no luto normal o sobrevivente compreende que a percepção não é real.

 

Conforme Bowlby, existem 04 estágios para a perda. São eles:

  1. Fase inicial de desespero agudo, caracterizado por insensibilidade e protesto, negação, explosões de raiva e perturbação. Pode durar momentos ou dias;
  2. Fase de saudade intensa e busca pela pessoa que morreu, caracterizada por inquietação física e preocupação desgastante com o (a) falecido (a);
  3. Fase de desorganização e desespero, onde a realidade da perda começa a se aprofundar, caracterizada pela sensação de “estar somente levando a vida” e retraimento, apatia e indiferença, ocorrendo ainda insônia, perda de peso e sentimento de que “a vida perdeu o sentido ou o significado”;
  4. Fase de reorganização, onde os aspectos dolorosos do luto começam a se abrandar e a pessoa enlutada começa a sentir que “está voltando a viver” e a pessoa falecida passa a ser recordada com alegria e também tristeza e sua imagem é internalizada.

Já o luto patológico ou anormal pode existir de diversas formas. Ele pode estar ausente ou retardado ou pode ser excessivamente intenso e prolongado, bem como pode estar associado a IDEAÇÕES SUICIDAS ou SINTOMAS PSICÓTICOS CLAROS.

As pessoas com maior risco de sofrerem um LUTO ANORMAL são aquelas que passam por uma perda repentina ou em circunstâncias horríveis, as pessoas socialmente isoladas, as que se julgam responsáveis pela morte (responsabilidade real ou imaginária), as que têm história de perdas traumáticas e as que tinham um relacionamento intensamente ambivalente ou dependente com a pessoa falecida. Outras formas de luto anormal ocorrem quando alguns aspectos do luto normal são distorcidos ou intensificados em proporções psicóticas.

As semelhanças do luto normal e da depressão são inúmeras, dentre elas: tristeza, choro, perda de apetite, sono de má qualidade e um interesse diminuído pelo mundo, pelas atividades que anteriormente gostava de realizar. Entretanto, existem diferenças suficientes para os PSIQUIATRAS os tratarem como síndromes separadas.

As diferenças entre SINTOMAS DEPRESSIVOS ASSOCIADOS À PERDA DE UM ENTE QUERIDO e o TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR só podem ser corretamente identificadas pelo PSIQUIATRA a partir de uma avaliação médica detalhada (anamnese psiquiátrica e exame mental) e deve ser, no caso de diagnosticado o Transtorno Depressivo Maior, imediatamente tratada por tratamento médico psiquiátrico (medicamentoso) e psicoterápico.

 FONTE: Kaplan & Sadock, artmed, 2007.

Autor

Dra Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

Dra Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

Psiquiatra

Especialização em Medicina de Família e Comunidade no(a) universidade federal de alagoas.