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Personalidade, Transtornos de Personalidade e seus clusters (classificações): definições, carcaterísticas e tratamento.

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Transtornos de Personalidade

A personalidade é composta por um conjunto de representações, de si e dos outros, ligadas a estados afetivos e que se manifestam nos relacionamentos interpessoais.

Ela possui um temperamento como pano de fundo. Temperamento vem do latim “temperare”, que quer dizer “equilíbrio”. Outra definição afirma que temperamento é a tendência constitucional de uma pessoa para reagir de certo modo ao meio ambiente de acordo com a sua maneira de sentir.

A personalidade apresenta ainda alguns mecanismos de defesa próprios e determinado estilo cognitivo.

Não é possível definir ou determinar qual seria a personalidade “normal”. Todas as personalidades possuem algumas características que são mais ou menos adaptativas, que trazem dificuldades ou auxiliam a lidar com as diferentes situações.

Alguns indivíduos apresentam um conjunto de características disruptivas e pouco funcionais, sendo essa mesma combinação de características presentes em um certo número de pessoas, o que forma o padrão do transtorno de personalidade.

Pela DSM-IV, o transtorno de personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas culturais do indivíduo, sendo generalizado e inflexível, com início na adolescência ou no começo da idade adulta, estável ao longo do tempo e provocando prejuízo ou sofrimento, principalmente, nos relacionamentos interpessoais, sociais, familiares, ocupacionais. Ele se manifesta em duas ou mais das seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controle dos impulsos.

Os transtornos de personalidade se subdividem em:

Cluster A: Paranóide, Esquizóide, Esquizotípica;

Cluster B: Antissocial, Borderline, Histriônica, Narcisista;

Cluster C: Esquiva ou Ansiosa, Obsessiva-compulsiva ou Anancástica e Dependente.

As características principais de cada um dos transtornos:

  1. Paranóide:

- Desconfiança e suspeita de que os outros estão tentando enganá-lo ou prejudica-lo, sem evidências de que isto se justifique;

- Ofendem-se com facilidade, guardam rancores dessas desavenças;

- As preocupações com desconfiança atingem todas as relações do indivíduo;

- Pessoas hostis e combativas;

- Mecanismos de defesa: projeção e identificação projetiva;

- Frequência maior entre os homens;

- Prevalência na população geral: de 0,5 a 2,5%.

2. Esquizóide:

            - Distanciamento das relações sociais, mesmo com familiares próximos;

            - Expressões emocionais limitadas;

            - Indivíduos isolados, que não se importam com a opinião dos outros a seu respeito;

            - Preferem atividades que possam realizar sozinhos;

            - Parecem ser pessoas frias, sem sentimentos intensos;

            - Frequência um pouco mais comum em homens;

            - Maior prevalência em parentes de primeiro grau de pessoas esquizofrênicas.

3. Esquizotípica:

            - Prejuízo importante nas relações interpessoais;

            - Distorções cognitivas e na percepção (sem ser delírios ou alucinações verdadeiros);

            - Pessoas supersticiosas ou com crenças não-condizentes com seu meio sócio-cultural;

            - Acreditam ter um poder ou dom especial;

            - São descritas como pessoas estranhas ou excêntricas;

            - Prevalência na população geral: 3%;

            - Maior prevalência em parentes de indivíduos esquizofrênicos.

4. Antissocial:

            - Desconsideração dos direitos alheios, sem que haja culpa ou remorso pelas consequências dos seus atos;

            - Histórico de transtorno de conduta antes dos 15 anos de idade;

            - Violação de regras, destruição do patrimônio, agressões;

            - Pessoas que manipulam os outros para conseguirem o que desejam;

            - Tomam decisões de forma impulsiva;

            - Comportamento irresponsável e inconsequente;

             - Capazes de seduzir;

            - Comumente se envolvem em contravenções;

            - Prevalência na população geral: 3% em homens e 1% em mulheres.

5. Borderline:

            - Instabilidade (nas relações interpessoais, na autoimagem, instabilidade afetiva);

            - Pessoas impulsivas, colocam-se em risco;

            - Pessoas que possuem dificuldade de manter relacionamentos duradouros, vivem em uma “montanha-russa emocional” e apresentam convivência difícil;

            - Emoções intensas;

            - Dificuldade em conter a raiva (podem partir para agressão física);

            - Dificuldade em suportar tristeza ou frustração (levando a pensamentos ou tentativas de suicídio);

            - Podem apresentar comportamentos automutilatórios (autoagressões);

            - Prevalência na população geral: 1 a 2%;

            - Mais frequente em mulheres (75% dos casos são mulheres).

 6. Histriônica:

            - Emotividade em excesso;

            - Necessidade em estar no centro das atenções;

            - Atitude sedutora e teatral;

            - Pessoas que empreendem grandes esforços para agradar e seduzir de maneira indiscriminada;

            - Afeto superficial e inconstante;

            - São sugestionáveis e podem desenvolver relacionamentos de grande dependência;

            - São intolerantes às frustrações, podendo ocorrer ameaças de suicídio;

            - Prevalência na população geral: de 2 a 3%;

            - Mais frequente em mulheres, mas estudos recentes mostram prevalência semelhante em ambos os sexos.

7. Narcisista:

            - Sentimentos de grandiosidade sobre si mesmo, acreditando ser especial e dotado de qualidades ímpares;

            - Acredita ocupar posição de destaque em relação às demais pessoas;

            - Pessoas que podem tentar usar outras para atingir seus objetivos;

            - Costuma ter pouca empatia pelos outros;

            - Mais frequente em homens (50 a 75% dos casos);

            - Prevalência na população geral: inferior a 1%.

8. Esquiva ou Ansiosa:

            - Padrão de retraimento social;

            - Hipersensibilidade à rejeição;

            - Sensação de inadequação;

            - Essas pessoas desejam contato social, mas se sentem inapropriados, inferiores, temem a ridicularização;

            - São descritos como TÍMIDOS, com início deste comportamento desde a infância;

            - Prevalência estimada na população geral: 0,5 a 1%.

9. Dependente:

            - Necessidade extrema de cuidado;

            - Comportamentos submissos pelo medo da separação;

            - São pessoas que pedem conselhos para tudo e permitem que outros tomem decisões importantes em seu lugar e dificilmente expressam discordância;

            - Podem aceitar situações humilhantes para evitar a possibilidade de ficar sozinhos.

 

 

 

10. Obsessivo-compulsiva ou Anancástica:

           

            - Padrão de excessiva rigidez, preocupação com ordenação e controle;

            - Perfeccionismo exagerado;

            - Pessoas que gastam muito tempo com detalhes e regras, muitas vezes perdendo o foco no que é importante;

            - Sofrem com a busca da perfeição e costumam dedicar muito tempo ao trabalho, acreditando não ter tempo para descansar;

            - Possuem grande dificuldade em delegar tarefas;

            - Possuem padrões muito rígidos sobre o que é certo ou errado;

            - Pessoas pouco carinhosas, com dificuldade de expressar sentimentos;

            - Interação social complicada, muitos atritos;

            - Prevalência na população geral: cerca de 1%;

            - Mais frequente em homens.   

 

** ETIOLOGIA: Multifatorial: mistura de fatores genéticos e ambientais.

*Maior herdabilidade: T. de Personalidade Narcisista, Obsessivo-compulsiva, Borderline, Histriônica e Esquizotípica.

** TRATAMENTO E SETTING IDEAL:

*Para os pacientes do CLUSTER C (Esquiva, Dependente e Obsessivo-compulsiva), considerados mais leves, o tratamento é ambulatorial ou em consultório, composto de consultas/atendimentos psiquiátricos e psicoterápicos. A abordagem psicoterápica de maior estudo com boa resposta é a psicodinâmica.

*Para os pacientes do CLUSTER A e B (mais graves), o tratamento pode exigir acompanhamento em CAPS ou HOSPITAL-DIA. Podendo, em alguns casos, ser necessário tratamento ambulatorial intensivo, hospitalização parcial e mesmo breves internações psiquiátricas.

*Principais indicações para internação psiquiátrica: ideação suicida ou graves tentativas de suicídio, alto risco de hetero e autoagressividade, episódios psicóticos transitórios ou episódios dissociativos graves. Estes casos são mais frequentes em pessoas do CLUSTER B.

É importante, ao se evidenciar alguns sinais e/ou sintomas de algum dos transtornos de personalidade, procurar um médico psiquiatra, não se auto-diagnosticar, muito menos, auto-medicar, pois todos os indivíduos podem ter traços de algum transtorno de personalidade, sem possuir o transtorno, já que são necessários critérios diagnósticos fechados para se efetuar o diagnóstico e só o médico é capaz de firmá-lo, após o acompanhamento.

Fonte: Manual de Psiquiatria da UNIFESP, Kaplan, DSM-IV, CID-10. 

Autor

Dra Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

Dra Marilia Rodrigues Cavalcanti de Alencar Marinho

Psiquiatra

Especialização em Medicina de Família e Comunidade no(a) universidade federal de alagoas.